quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Desenrole no posto monstro.

Estava indo de manhã cedo para a entrega da Rede Ecológica (quem não conhece procura saber que vale a pena) e parei no posto monstro, também conhecido como posto monza, para comprar um tabaco com canela de bali (só na finta) exercitando assim a contradição que me constitui.

Quando estacionei percebi que tinha um camarada que ainda estava bebendo (isso devia ser 08:30) desenrolando com um catador de material reciclável que provavelmente morava na rua.

Quando estou me dirigindo ao carro o rapaz, que parecia ter conversado com Sofia Loren toda a noite, me aborda. Ele me perguntou uma opinião:

Olha ai, to falando para ele, minha mãe trabalha na secretaria do caralhoaquatro, e podia dar uma força para ele, cortar esse cabelo, arrumar um trabalho sair da rua.
Percebi um misto de gastação com "olha como eu te ajudo, sou sangue".
Perguntei ao camarada com o aspecto de rolo se ele estava tranquilo. Ele que estava com uma cerveja e um cigarro com vários materiais que tinha catado disse. Tô tranquilo, tô tranquilo pô. Eu disse ai, o cara ta tranquilo.

O amigo que me chamou foi la e disse: Não mas peraí, falo de ele ter uma vida normal, cortar esse cabelo, entendeu trabalhar.
Eu falei: Ué mas ele trabalha, um trabalho importante, reciclar e tal e perguntei ao e ai amigo, quer corta esse cabelo?
O amigo disse: não to deixando crescer porque vou fazer trança no desfile da Beija Flor.
Porra, nego fica querendo ajudar quem não quer ser ajudado, educar que não quer ser educado e empregar que não quer ser empregado e prol de se sentir como sangue bom. Vai toma no cu geral.
Fui para a entrega e foi só alegria.

6 comentários:

  1. "Não mas peraí, falo de ele ter uma vida normal".

    Onde o normal é aceitar a doença nossa de cada dia, a paranóia corriqueira que rouba nossas belezas.
    Maldade máxima é querer adoecer o resto do mundo para enxergar no espelho sua doença como normal.

    ResponderExcluir
  2. O nome disso é ego, diria nosso mestre Palana.

    ResponderExcluir
  3. A irredutibilidade dos mendigos (de não aceitar se enquadrar na imensa rede de contraprestações de jeitinhos em que a grande maioria da população precisa se enquadrar para sobreviver com seus rendimentos pífios) me encanta.

    ResponderExcluir
  4. Vale lembra que na Índia a mendicância é um recorrente método de libertação espiritual.

    ResponderExcluir
  5. Errata: "vale lembrar".
    Ou mesmo "vale lembrá".
    Mas "vale lembra" é outra coisa.

    ResponderExcluir