sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Instinto

Tornei-me pai.
Tudo continua igual...mentira!
Aflora dentro de mim algo inusitado. Que sempre existiu. Que sempre foi claro e óbvio, mas nunca antes utilizado. Algo que não preciso pensar sobre. Uma mágica interna. Uma sabedoria adormecida de anos atrás, que não vivi. Que nunca nem pensei sobre.
Gerei um ser vivo. Diferente de mim. Não fiz uma mitose ou coisa parecida. Uni meus genes aos de um outro ser humano e agora, exatamente agora, na minha frente está Francisco. Paco, pros íntimos. Dormindo envolto a 3 mantinha que antes dele, nunca tinha nem ouvido falar...agora sei pra que servem...pareço saber....sei.

E ao mesmo tempo vivo dentro de mim um novo ser. Um novo Monstrão. Um cara normal. Que foi pai. Com as mesmas vontades e loucuras. Mas um monstro pai.
Mas que é diferente de mim em tudo. Sabendo que sou eu.

Pra cuidar dele não penso. Ajo. E pra minha surpresa, ajo certo. Tenho os cuidados mais delicados e mais preciosos nítidos em minha mente. Olho pra ele e vejo, sinto a solução. Quase posso ouvir sua voz, que ainda não conheço dizer: assim não pai, mais pro lado, mais pra cima..com mais cuidado....foda. Foda demais.

Ele é meu. Sou dele.
Ele é continuidade. Eu, agora, início do meu fim. Garantia de vida por mais algum tempo. Até que ele se torne também, início de fim, quando tiver o rebento dele.

Agora também sou eterno ao mesmo tempo. Sou a razão pela qual ele continua vivo ainda nesses 4 dias de vida. Sem mim, teria falecido. Tão facilmente quanto esmagar uma larva de formiga.
Sou Deus. Sempre me senti assim, mas ter me dado a oportunidade de gerar um filho, de amar um filho, faz-me ter certeza ainda maior. Sou Deus.

Só o amor constrói.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O professor e o descobridor

Enquanto um pára e ilumina-se com a possibilidade de ver ainda muitos mais naquela miragem tão especial, criando roteiros, alargando caminhos,
Outro embrenha-se no mato, mulato-louco, sem barreiras, sem malícias.

Ambos iluminados, ambos necessários.
Contudo, diversão fatal, epifânica, é só para um deles.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Find'ano

Tem espocado umas chuvas...
É dezembro que desaba
encaminhando os anos,
cada qual com seu fim.
Marca-se o desfecho
do diminuto ciclo.
E celebra-se, se possível.

Novas revoltas
contra velhos vícios
e toda a ansiedade
de redefinir os cultivos,
implantar novos hábitos,
quiçá rejuvenescer - oxalá!

O sentimento geral de confiança
nas famílias multiladas,
nas que simulam intimidade,
nas que vivem num comercial de chester,
nas telas de excêntricos solitários,
nas galeras das festinhas,
nas bebedeiras das viradas...
Onde, aliás, se desperdiça fogo capaz
de acender os infinitos cigarros
do ano que vem.

Por ora, antecipo os parabéns pra você,nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida, meu caro J.C. (Sigo rezando - até então sem sucesso - para que ressucite de novo... A gente marca um chope quando funcionar!)

Que o ano bom traga um bom ano!
E que, finalmente, inventem o sucrilho voador...

Afinal, a gente não quer só comida, a gente quer comer e quer sair voando!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Educar para controlar

Vou te dar tudo.
Informações todas.
Te quero sábio.
Sabetudo, sabichão, salsicha.
Explorando qualquer possibilidade de construção intelectual.
Orador, palhaço. Mestre.
Não há mais barreiras para o saber!
Conquiste, meu filho. Cresça.
Desejo que você cresça...
Indefinidamente.
E assim, gigante, obtuso, sagaz, totalmente confuso com tanta informação,
executarei a forma mais bela de controle.
E você estará alegre e líder em me servir.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O alimento do filósofo

Enquanto o filósofo filosofeia
comparando o mundo a uma teia
o calo seca na mão
e o sangue corre na veia.
O que sustenta o pensamento
por onde a mente passeia
certamente é carecedor
de uma barriga bem cheia.
Cada um com sua parte
cada um com o que lhe cabe
cada um com seu azar
cada um com sua sorte.
Liberdade é coisa rara
que merece nossa luta
quando vem e se escancara
dá um medo, até assusta.
Minha casa meu aconchego
onde faço minha conduta
dessa vida eu nada levo
deixo apenas minha labuta.
Labuta que move e muda
a vida dos outros e sua.

Quem quiser que faça
quem quiser que obedeça
E tem ainda que ache graça.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Sobre a autoria

Que toda arte seja recebida do divino.
Que haja posse, lucro. Mas autoria, não.
Ideia tá no ar, é do mundo. É de deus.
Alguns têm o dom de receber, de traduzir.
Mas criação individual, nunca houve. Nunca haverá.
Não há começo, não há fim.
O artista é veículo espiritual do coletivo.

Esmero na lapidação, doce ilusão.
Pretensão de controle. Falha na abordagem.
Egotrip.
Toda obra está em toda obra.

A obra vem da outra que vem da outra que vem da outra.
E quando o sublime é aceito, até mesmo da outra que vem de uma.

Gênio é o mundo.
Gênio é o veículo por onde fala o mundo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Números

Agora me encontro aqui, dando números, notas, avaliando matemáticamente pessoas. Quer merda não?
Pense na diferença entre um 7,5 e um 8,5?
Outro dia estava na sala e duas meninas sairam na porrada. Porrada mesmo, soco, olho rocho e tal. Meia hora antes duas tinha brigado no refeitório, corte no rosto, muitos alunos gritando, exitados com o movimento.
Porra que número eu dou pra isso? Como os números dão conta disso?
O objetivo dessa merda é saber o que a China produz? Como foi a colonização dos EUA?
To subvertendo essa porra, minhas contas são lisérgicas. O trabalho? Entrega alguma coisa.Quando? Quando ficar pronto, infelizmente tem que ser antes da data que eu tenho que colocar a porra dos números.
A escola é uma montanha russa de emoções. De um lado histórias que te fazem considerar qualquer problema seu um coco de preá. De outro lírios, poesia, amor e aprendizado.
Tomara que não dê merda e que eu possa continuar recebendo meu salário.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Desenrole no posto monstro.

Estava indo de manhã cedo para a entrega da Rede Ecológica (quem não conhece procura saber que vale a pena) e parei no posto monstro, também conhecido como posto monza, para comprar um tabaco com canela de bali (só na finta) exercitando assim a contradição que me constitui.

Quando estacionei percebi que tinha um camarada que ainda estava bebendo (isso devia ser 08:30) desenrolando com um catador de material reciclável que provavelmente morava na rua.

Quando estou me dirigindo ao carro o rapaz, que parecia ter conversado com Sofia Loren toda a noite, me aborda. Ele me perguntou uma opinião:

Olha ai, to falando para ele, minha mãe trabalha na secretaria do caralhoaquatro, e podia dar uma força para ele, cortar esse cabelo, arrumar um trabalho sair da rua.
Percebi um misto de gastação com "olha como eu te ajudo, sou sangue".
Perguntei ao camarada com o aspecto de rolo se ele estava tranquilo. Ele que estava com uma cerveja e um cigarro com vários materiais que tinha catado disse. Tô tranquilo, tô tranquilo pô. Eu disse ai, o cara ta tranquilo.

O amigo que me chamou foi la e disse: Não mas peraí, falo de ele ter uma vida normal, cortar esse cabelo, entendeu trabalhar.
Eu falei: Ué mas ele trabalha, um trabalho importante, reciclar e tal e perguntei ao e ai amigo, quer corta esse cabelo?
O amigo disse: não to deixando crescer porque vou fazer trança no desfile da Beija Flor.
Porra, nego fica querendo ajudar quem não quer ser ajudado, educar que não quer ser educado e empregar que não quer ser empregado e prol de se sentir como sangue bom. Vai toma no cu geral.
Fui para a entrega e foi só alegria.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Blocos

Escrever em bloco pode ser complicado. Um meu mui amigo disse que meu estilo, de espaçar parágrafos, estaria ultrapassado. Engolido pela grande rede, um método pelo qual tenho afeto, talvez até apego, de fato soçobra nas constantes renovações da escrita. Novos acordos firmando-se sem meu consentimento; dialetos festivos da classe média informatizada, de gente metade robô, metade gente mesmo, que entendo cada vez menos. Minha fluência, fugidia já nos tempos de maior estabilidade gramatico-poética, torna-se proto-poesia de um discurso sonso. Me sinto presa de meus segredos. E como mudar de assunto, se não se pode pontuar uma frase de efeito e ter o tempo de pular a linha antes de embarcar numa ideia conexa? Igual fazíamos nos cadernos, nossos cada vez mais ameaçados de extinção anti-heróis da infância e eventuais companheiros de pós-adolescência. A concretude do bloco, afinal, não dá conta de descrever a forma espasmódica do pensamento. Gosto dos travessões, dos apostos. Gosto das lacunas que eles preenchem. Mas um parágrafo te obriga a parar e pensar. Faz bem mais do que um ponto, muito mais que uma vírgula, mais talvez do que algumas reticências... Ditados e lendas prescrevem paciência: rimas raras são pequenas clarabóias entre a alma do autor  e a do sujeito que lê. Pseudônimos inúteis, estamos sempre revelados pelo que escrevemos. Uma nudez inventada pelo ritmo das palavras, expressões, figuras de linguagem e acentos que escolhemos. Auto-exposição controlada, ainda que precariamente.

Só precisamos pular a linha. Ainda assim, muito de vez em quando.

domingo, 20 de novembro de 2011

Precisamos é de Choque de Xoxota

A Rocinha recebeu o choque. É a paz boladona, de fuzil e sangue nos olhos. Saíram os trafica, chegaram os poliça. A violência foi retirada e quem levantar a mão agora leva chumbo grosso. Tá tudo dominado.

Eu to rindo demais, porque tá geral apoiando e achando irado. Ninguém fala das entrelinhas, ninguém fala das motivações lá do fundo. Mas, pera aí, ninguém nunca falará.

Isso que ninguém nunca falará não são as milícias, não é o lucrativo comércio de armas e nem a pulverização do lucro do tráfico para outras mãos. Isso o Marcelo Freixo tá falando aí faz tempo e tá quase morrendo por isso.

Eu to falando é de Xoxota e Piru. De fudelança, orgia, sodoma e gomorra. To falando da energia incandescente que se reprime em cada cidadão aí da cidade, do campo, do asfalto e do morro. E não tem como segurar, malandrão.
Esse rio caudaloso não se bloqueia, só se desvia.

No cerne de tudo está o sexo. Que poucos resolvem, quase ninguém entende. Tá todo mundo motivado por isso, porque o sexo não para, é o tempo todo. Aguenta essa: o mito tântrico do sexo infinito não é um mito. Ao contrário, é modus operandi. “Todos transam o tempo todo” é a ordem das coisas. A lascívia transborda, penetração e corpos são apenas símbolo.

E saber disso e viver isso é Poder. É poder avassalador. Poder pra dedéu que qualquer um pode ter. Perigoso pra caralho para a “paz”. Porque essa energia primeva nada tem a ver com a ordem. Então o estado coíbe as zonas autônomas e qualquer epifania libertadora. Os argumentos sempre surgirão.

Veja, o ponto aqui nada tem a ver com apoiar ou não o “choque de paz”. O tópico foi apenas gancho para um papo sobre o hardcore, o que está por trás de tudo, no véu da realidade. Eu sei, é meio esotérico e os caralho, mas que se foda. Te garanto que é um paradigma divertidíssimo, melhor que o café com leite oferecido a você pelo Jornal Nacional (e seus amigos do facebook).

Choque de Xoxota é melhor pra apoiar. Invadir o próprio corpo, tomar controle. Descubrir-se. Salvar-se e parar de tentar salvar os outros porque tu tá mal, meu filho. Tá mal mesmo. Tá pagando chacota.

Vamos de choque de xoxota, choque de piru.

Choque de Amor.

sábado, 19 de novembro de 2011

Novo barato

Às três da manhã da última segunda-feira, fui tirado da cama por uma visita extremamente desagradável. Era a última madrugada de um fim-de-semana de nostalgia e esperança, dada a realização dos chás-de-fralda de dois amigos-irmãos, onde encontrei a fina flor de meu ciclo de amizades. Havia muito, não via a maioria das pessoas que ali estavam. Coincidentemente ou não, nas duas ocasiões tive a felicidade de encontrar a justa medida etílica, algo raro para alguém que, como eu, tem passado bastante tempo sem beber. E tudo isso contribuía para que eu dormisse o sono dos justos, feliz da vida novamente após considerável estiagem.

Mas não foi apenas devido ao encontro obscuro que, além de levantar da cama, desisti momentaneamente dela para começar a esboçar este relato. Afinal, acordado eu já estava desde quando percebi a presença indesejável e, por instinto, dediquei um tapa duvidoso mas certeiro ao que me roçava o pescoço e o peito. Em milésimos de segundo já estava sentado na cama perguntando – no melhor estilo maroto-travesso – “qu’é isso, qu’é isso?”

Qu’é isso!? Torci para que não fosse, mas era. Já de pé, travesseiro em punho, revi o vulto pestilento, que mirara na penumbra com os olhos da nuca, e tive a delicadeza de apenas afastá-lo com o travesseiro em que diariamente babo ou abraço para compensar as eventuais ausências da Manu.

Na hora, a reação dela foi de pânico sincero por acordar sob um sujeito de um metro e noventa munido de seu travesseiro, em pé na cama, pelado e repetindo maquinalmente uma mesma sentença. Ainda sem saber a motivação do meu desespero, ela levantou num lapso e soltou um urro de pavor, refazendo minhas perguntas mais grave e lentamente, como se sua voz estivesse em câmera lenta... Foi isso que mexeu comigo ainda enquanto ia, calma mas firmemente, buscar uma vassoura para destroçar a barata que acabara de caminhar sobre o meu peito e suas eventuais aliadas.

Fiquei balançado com aquilo, um ódio animal pelas baratas (além da atrevida, havia mais uma na porta do meu banheiro, em frente à minha cama, e mais duas na boca da casa delas, dali a alguns metros, todas alvo de minha fúria justiceira). Meus piores sentimentos, contudo, iam para a ignóbil caixa de gordura que mora no corredor ao lado. Não convivo bem com ela, nunca convivi, mas há uma anilha ancestral enterrada da porta de casa pra dentro, em frente à minha cozinha. O tampo, grotesco e medieval, até tapo com uma passadeira em razoável acerto estético. Mas o conteúdo oculto mantém-se um problema, ao menos até que me mude daqui ou uma improvável mega-operação hidráulica desvie os tubos pestilentos do meu caminho. É lá debaixo que elas vivem. Eu moro aqui em cima.

E estamos em guerra! Até então havia alguma diplomacia, as invasões eram tímidas (nada de “festa no apê” ou “caminhada sobre humanos”). Na verdade, poucas delas se apresentavam com vigor suficiente para uma boa batalha. Chegavam sempre meio grogues, sonolentas. Tampouco costumavam andar em grupos. Por isso, além da surpresa pela humilhação do break dancing no meu cangote, teve o susto pelo surto expansionista da facção rival dentre todos os insetos que convivem nesta casa (eu, em certa perspectiva, incluído). Oponente deveras complicado, dizem que nem mesmo uma hecatombe poderia exterminá-las. Questão de guerrilha apenas de ambos os lados...

Senti muita culpa pelo susto aplicado involuntariamente na Manu. Culpado por não poder, ainda, viver em um lar onde as baratas não passam tão perto da minha cama em seu caminho casa-trabalho trabalho-casa. Uma casa com menos problemas do que aquelas – boas, sem dúvida – que habitei durante a minha cada vez mais longa trajetória no planeta. Umas grandes demais, outras muito velhas, outras significativamente pequenas, e várias delas vulneráveis às investidas eventuais das malditas.

Sou ripongo incorrigível, mas não entro no barato de seres repugnantes cheios de amor para dar. Assim, possesso com a invasão e a afronta, imediatamente após ferir de morte e reunir as quatro tinhosas junto à única porta de saída, arrisquei as primeiras represálias ao desgosto simbólico de fazer-se pista de skate para baratas – acho até que a mais abusada tenha arriscado alguns passos de moonwalk nas minhas costas para conseguir me arrancar do sono profundo. Destilava, enfim, essa culpa pelo descaralho, o desapego talvez nocivo às normas, a higiene indolente e obsoleta, ou o desdém absoluto pela saúde e inteligência virtuosas que dei a sorte de contar.

Então, mesmo sem curtir inseticidas, apoderei-me do pior/melhor veneno que encontrei e fui banhar as bordas do tampo malquisto. Além de borrifar as três moribundas inimigas (uma das filhas-das-putas não me pegou as duas das seis patas que restaram e fugiu para algum lugar!?) com algum sadismo, besuntei a orla da tampa com o veneno e olhei fixamente para ela enquanto, no auge da onda do inseticida, praguejava. Permiti que meu matador serial oculto raciocinasse sobre o ódio que me transtornara. Mania nova, tenho tentado me aproveitar mesmo dos pensamentos mais malignos. E tratava-se de ódio legítimo, aquele! Plenamente útil, quiçá, em algumas situação periclitante futura.

Voltei para ver a Manu, e ela estava mais calma. Logo após seu assustador lapso de desvinculação entre a velocidade dos gestos e da fala, ela já estava sentada numa cadeira, ao lado do computador, respirando profundamente enquanto tomava cabo da situação. Pedi desculpas pela minha reação instintiva, ela compreendeu. Compreendeu também quando ralhei com ela porque reclamava em ladainha do barulho sinistro que a porta de correr do banheiro passou a fazer depois que varri uma das minhas inimigas dali debaixo para fora, para a porradaria que a esperava. Gritei que, porra, acabava de acordar com uma barata trotando nas minhas costas e, se minha porta do banheiro começou a fazer um barulho estridente, sinistro e escroto como aquele, eu tinha que resolver na hora, caralho, merda, putaqueopariu! Ela entendeu numa boa, apesar de ter criticado, posteriormente, meu requinte de ligar o aspirador de pó às três da matina.

Como pensava em dar um tratamento caprichado à questão, trocando lençóis e fronhas, tomando mais um banho e começando a vedar com cola plástica (comprei um litro com este intuito há tempos) a fresta entre minha casa e o esgoto, sugeri que a Manu fosse deitar na cama da Lis. Mas, quando eu abri o quarto da pequena, vi o quanto a cama dela estava zoneada. Quase tudo culpa minha! Aí, quase esmoreci. Mas transferi a bagunça para outro canto, oferecendo finalmente um pouso para a namorada sonolenta.

Tudo pronto, resgatei a moça. Mas dormi pessimamente. Acordava a cada rasante de mosquito e mesmo quando um simples pelo de minhas pernas se desenrolava sob o cobertor. Espasmos ordinários e uma suposta taquicardia confirmavam a intoxicação com o veneno, que provavelmente me fulminaria em alguns instantes (afinal, achei o gosto de um dos cigarros que fiz enquanto escrevia estranho, por rascante, e cheirei minha mão com paranóia, supondo encontrar vestígios do produto, que eu teria lambido acidentalmente). No fim, cochilei um pouco. E sobrevivi.

Acordei bem, mas sinto seqüelas. Afinal, sempre tive uma relação poética com as baratas, que me induzem à prosa com alguma regularidade. Mas preciso tomar medidas urgentes visando impedir que o acaso me venha despertar novamente esfregando suas pequenas patas, provavelmente sujas de merda, na cara. As baratas à espreita. Estarei aqui, de tocaia. Pois não existe refúgio para uma guerra civil – a solução é doméstica e, talvez, lenta. Tento me contentar em ser um sujeito tranqüilo. Pelo menos, sangue de barata eu sei que não tenho. Já é alguma coisa.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A forma da prosa

A prosa pode ser quadrada, pode ser redonda, pode ser careta, pode ser muito doida. Ela também pode ser grande, se for pequena tudo bem também. Poder ser política ou pode ser porra nenhuma. Pode de ser hariboo ou pode ser junk. Pode ser do bruno pode ser do braz pode ser do pablo pode ser do mateus. poder ser que outra pessoa faça também. Pode ser prosa nova, quase virgem, pode ser prosa velha, toda larga. Pode ser que não de certo mas escrevo pelo que pode ser.